Carregar o bombo cinco andares para o carro mal estacionado, voltar a subir tudo para trazer três tímbolos empilhados. Depois só faltam os tripés, os pratos e a tarola para arrumar tudo no carro e ir até à baixa, pelo meio da cidade cheia de condutores apressados - as buzinas constantes, trânsito parado - para deixar o carro, outra vez mal estacionado, à frente do lugar onde vamos tocar.
Os músculos já estão cansados - feitos de borracha - quando finalmente conseguimos descarregar tudo e fazer uma pausa no trabalho. Não dá para ficar muito tempo parado, somos os primeiros a tocar e, pela logística, a única banda que faz teste ao som de palco. É só tocar um tema ou dois, mas antes disso são vinte minutos a montar os tripés de maneira a não tocar nas madeiras dos tímbolos, afinar a tarola para não fazer demasiada ressonância, e aparafusar, com força, o pedal para não deslizar durante o concerto.
Um jantar oferecido pela organização? Nem pensar. Acabamos de fazer o sound check e temos meia hora para comer. Ainda estou a digerir a comida, a equipa de produção já está a olhar para o relógio, a dizer que as outras bandas também precisam de tempo para tocar e que o espectáculo acaba à uma da manhã.
O concerto corre bem, mas não tenho a certeza, o som de palco é inferior ao som para o público. Como são vinte minutos que temos para tocar, acaba quase antes de ter começado - não consigo lembrar os pormenores. Não há tempo para descansar, tenho de desmontar tudo para a próxima banda. Quero ir para casa, mas a boleia é só no final da noite. Só vejo o nosso desempenho mais tarde, assim:
Apesar de tudo, não fomos pagos, a indústria musical não ajuda as bandas de pouco renome. No próximo ensaio da banda, falta-me um tripé. Deve ter ficado no concerto.
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